10 anos na estrada.
Em 2008 foi um ano difícil. Muitas perdas consecutivas, o trabalho era um inferno, o casamento outro inferno, a única coisa que me mantinha de pé era ser mãe. Mas como ele já era adolescente e não precisava tanto de mim, eu me mantive sentada, pintando para respirar. Eu cresci vendo mãe e tio pintando, mas sabia que aquilo “não era profissão”. Sempre pintei como hobby, no pouquíssimo tempo que me restava, mas depois de pintar eu destruia, rasgava e jogava fora meus desenhos e pinturas, porque eles eram só meus, eram feios, imperfeito, infantis. Eu não aceitava e não queria me expor pela minha feiura, as minhas imperfeições, fragilidades.
Em 2008, por falta de forças ou pressa eu pintava mais do que destruia.
Dizem que a bela flor do lótus nasce em águas sujas e pantanosas e é assim que eu senti. Toda sujeira, dor, falsidade, violência, desamor, o desprezo e o medo foram substituídos por arte, no meu estado mais bruto; no lodo do que é feio encontrei o belo da minha arte, naïf. Dez anos se passaram da minha primeira exposição.
10 dos 50 que pretendo percorrer.
Me dei o direito de ser artista. De exercer minha arte mesmo que feia, infantil.
Me dou a honra de viver de arte.
Não é fácil. Nem sempre se vende e quando não se vende não se come.
Não me importo.
Troco, escambo, negocio, financio em suaves prestações, dou a quem precisa, vendo a quem entende.
Dou e exijo respeito.
Eu respeito minha arte.
47 anos de arte, 10 anos de carreira.
É agora ou nunca.
Então é, agora.